Expedição 4×4 Amazônia: o relato de um aventureiro | PARTE 3

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Bom, já compartilhei nos posts anteriores (parte 1 | parte 2) sobre o porquê fazer uma expedição 4×4 na Amazônia e quando foi a minha primeira expedição para lá. No entanto, onde estávamos mesmo?

Ah, me recordei. Tínhamos acabado de chegar em Porto Velho, à beira do Rio Madeira, esperando a balsa para que então pudéssemos cumprir nosso plano de ir à Manaus e em seguida a Caracas, na Venezuela.

Assim, em pleno levantamento da segunda parte do rally Amerathon, o que seria o maior rally do mundo. O guarda nos parou e depois de muitas averiguações dobre os companheiros americanos, nos disse que não seria possível seguir viagem.

Teria nossa expedição 4×4 na Amazônia acabado antes mesmo de começar?

Continue a leitura e descubra.

Seria o fim da expedição 4×4 na Amazônia?

– Voltar? – indagamos.

Nesse momento, olhávamos incrédulos um para o outro enquanto o policial nos dava as costas, resoluto. Então soubemos que a estrada estava interditada, com pontes caídas, destruída pelas chuvas e tráfego intenso. Assim, as pessoas que estavam fora não podiam entrar, e as que estavam dentro, não conseguiam sair…

O organizador americano veio então até mim com um mapa que apontava a estrada como sendo pavimentada. O que estava errado então?

A BR 319, mais conhecida como Porto Velho/Manaus, foi construída durante o regime militar. Naquele momento, buscava-se integrar o território nacional e povoar a Amazônia, numa perspectiva, que consistia na integração e segurança nacional das fronteiras. Além de promoção do desenvolvimento econômico de toda a região.

Sua construção ocorreu entre junho de 1968 e início de 1976, ano da inauguração. Logo, os jornais da época apontavam a estrada Manaus-Porto Velho como uma das mais difíceis obras de engenharia de estradas do Brasil, pois, além de exigir a construção de 300 quilômetros sobre aterros, foi a única da Amazônia inteiramente asfaltada.

Sim, asfaltada… pintada de preto sobre um aterro. Com chuvas torrenciais durante meses, com caminhões trafegando já há quase dez anos sempre com peso acima do devido… Essa era a realidade. Havíamos chegado bem na hora errada.

Pior do que nossos veículos de apoio, ela já estava destruída.

Expedição 4×4 Amazônia rumo à Manaus

A balsa do Rio Madeira em Porto Velho ainda funcionava. No entanto, apenas para aqueles que se dirigiam a primeira cidade da BR 319, Humaitá, onde se cruza com a Transamazônica.  Ou que pretendessem seguir para o Leste, por essa mesma estrada.

Assim, depois de confabularmos em equipe resolvemos voltar à carga com os Rodoviários, alegando agora, mudança de planos e que seguiríamos para Humaitá e pela Transamazônica até Marabá. Tudo mentira.

– Lembrem-se: daqui para frente vocês não têm qualquer apoio nosso. A responsabilidade é de vocês. Vocês estarão sozinhos! – Jamais esquecerei essas palavras.

Como um grupo de off roaders “experientes e bem equipados” como nós poderia fugir da raia e voltar atras ante um desafio como aquele?

A balsa do Rio Madeira

Devia ser já umas nove ou dez horas da noite e conseguimos, finalmente embarcar. Éramos os únicos carros pequenos naquela enorme balsa sobrecarregada de caminhões e carretas.

O rio era bem largo e enxergávamos a outra margem ao longe. O calor era muito intenso, mas a suave brisa que vinha da proa era reconfortante. Nossa sensação era de vitória por termos conseguido embarcar, contudo também de um certo receio daquilo que teríamos de enfrentar dali para frente.

De repente, depois de um bom tempo de travessia, os motores da balsa diminuíram de rotação até pararem completamente. Achamos que se tratava de alguma pane ou qualquer outro procedimento que desconhecíamos. Mas, não. A balsa havia chegado no seu ponto de desembarque, a uns cinquenta metros da margem.

Logo depois, os primeiros caminhões começaram a saída, quase que sumindo submersos no escuro. A luz dos faróis desaparecia embaixo d’água. O borbulhar dos escapamentos, também submersos, fazia o fundo musical daquela loucura, acompanhada de berros de incentivo dos motoristas e outras pessoas que estavam a bordo.

Lembrei que um dos carros dos americanos tinha um guincho elétrico. No entanto, ali não serviria muito. Além disso, não conseguiríamos manobrar os carros onde estavam, pois não podíamos atrapalhar a descida dos caminhões que estavam atrás de nós.

A balsa cruzou o rio, mas como desembarcar?

A solução nos foi dada por dois irmãos da estrada, catarinenses que transportavam maçãs em baús frigoríficos. Assim, amarramos, dois a dois, nossos carros á traseira dos dois baús, fechamos as janelas dos carros, e desligamos os motores.

Só senti um tranco enquanto meu carro de apoio mergulhava no escuro, boiava um pouco, sumia e tranqueava. Imediatamente começou a entrar água pelo painel, por debaixo das portas, me molhando.

Já meu companheiro fotógrafo, que viajava comigo, ficou na balsa. Desembarcando em seguida, em cima da carroceria de outro caminhão. Junto a diversas outras pessoas, com bicicletas, e todo tipo de bagagem, não conseguiu fazer uma foto sequer. Estava sem bateria!

Num ato de desespero resolvi acender os faróis, vi uma mancha branca, depois estrelas no céu e, logo, a traseira do caminhão e as luzes da beirada do rio… Estava salvo!

A Amazônia

A Amazônia já se tornava inesquecível para mim desde esses primeiros momentos.

Lembro da gritaria e risadas frenéticas de todos os que assistiam.

Então, já parado, um pouco distantes da invisível rampa de desembarque, fui ver se estava tudo bem com meu companheiro do segundo carro de apoio, atrelado atrás de mim. O motorista, Henrique, meu amigo, só ria e procurava alguma coisa dentro do carro. Os dois lados do carro pareciam uma cachoeira.

O motorista do caminhão veio ver se estava tudo bem comigo. No entanto, eu estava calado e só pude balbuciar um palavrão e o agradecer. Logo chegou o fotógrafo rindo nervosamente. Tudo o que carregávamos dentro do carro simplesmente ficou encharcado.

Os americanos vieram em seguida. Todos rimos, e comemoramos. Nossos carros foram cercados por curiosos. O show tinha sido um sucesso.

Definitivamente, nossa expedição 4×4 na Amazônia estava em curso e já era uma grande aventura!

No entanto, será que os nossos carros de apoio ligaram? Seria possível seguir com o plano de chegar a Caracas, na Venezuela?

Esse desfecho ficará para a última parte desse relato, na próxima semana. Mas enquanto isso, que tal conferir cliques incríveis em nosso Instagram?

Até logo!

Confira todos os capítulos dessa aventura:
Parte 1 | Parte 2 | Parte 4 | Parte 5 | Parte 6

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