Expedição 4×4 Amazônia: o relato de um aventureiro | PARTE 4

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Se você aprecia off road e as aventuras que essa modalidade pode proporcionar, que tal descobrir o desfecho dessa minha primeira expedição 4×4 na Amazônia?

Voltamos a 1985. Segunda parte do levantamento do rally Amerathon. Uma equipe de brasileiros com dois carros de apoio 4×4, auxiliando uma equipe de americanos a traçar um roteiro do qual seria o maior rally do mundo.

Em síntese, essa expedição 4×4 à Amazônia tinha começado antes mesmo de chegar a Brasília, nosso ponto de partida rumo a Caracas, na Venezuela. Nossos carros de apoio já estavam com as marcas de uma aventura off road intensa, já tínhamos nos livrado de diversos itens da bagagem. E até mesmo um mergulho a bordo dos nossos 4×4 já havíamos enfrentado.   

Mas será que chegaríamos à Manaus? Depois da empreitada para descer da balsa, será que os carros estavam funcionando?

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Em terra firme, mas será que em condições de seguir com a expedição 4×4 na Amazônia?

Depois de sair de cruzar o Rio Madeira em uma a balsa, enfrentar uma intensa aventura para chegar ao outro lado do rio, chegamos em Humaitá.

Gastamos dois dias parados ali na cidade para reorganizar e secar tudo o que estava molhado. Por sorte conseguimos um pequeno hotel de madeira à beira do rio. Era muito simples, mas tinha camas e banho de balde. Depois do cansaço e da adrenalina daquele longo dia simplesmente desmaiamos.

A aventura off road não é só na trilha

Então, já com o dia claro, finalmente conseguimos enxergar onde realmente estávamos. O hotel era um grande barraco. As divisórias dos quartos eram tapumes de madeira que não chegavam a tocar no chão de terra.

O solo, isso solo porque não tinha piso, era inclinado para o fundo, onde estava o rio. Dentro do meu quarto escorria água e sangue.

Ok, eu explico. Claro que acordei assustado, mas não mais que os gringos. O clima de Velho Oeste imperava, mas aquilo era demais.

Como não vi nenhuma movimentação alarmante, afinal era só um córrego de sangue passando perto de minha cama. Assim, vesti a mesma roupa que havia secado durante a noite e saí para averiguar. Logo encontrei o fotógrafo que me disse, rindo.

– Mataram um porco ontem à noite e deixaram ele pendurado sangrando lá na frente, na cozinha. – Mistério resolvido!

Agora estavam escarneando o bicho e lavando sua buchada. A água com sangue escorria livremente dentro dos quartos, até o rio, destino de toda a sujeira.

Como não havia alternativas, permanecemos nesse “hotel” até o dia seguinte. Todavia, não me lembro se comemos o porco. Então aproveitamos para dar uma geral nos carros, observar os óleos para ver se não havia contaminação pela água, nos filtros de ar, nas peças de reposição que levávamos, no reservatório de combustível e sistema elétrico do motor.

Uma parada em Humaitá, ou seria o fim da viagem?

Nosso deslocamento do Rio Madeira até Humaitá havia sido lento, na noite anterior. A estrada asfaltada no mapa dos americanos ainda resistia um pouco nesse trecho. No entanto, já apresentava enormes crateras e trechos inexistentes que, na sua maioria mediam centenas de metros.

O que não era asfalto era lama e trilhas alternativas criadas para desviar dos atoleiros maiores. Como a estrada havia sido assentada sobre um aterro, muitas vezes o retorno ao seu leito era um verdadeiro degrau.

Por causa de problemas como esse, que se estenderiam até nossa chegada a Manaus, ônibus e caminhões já não tinham mais os para-choques, degraus de acesso, grades dianteiras, bagageiros e paralamas. Os que haviam saído de Manaus e conseguido chegar a Humaitá pareciam ter chegado de uma guerra.

Será que a expedição 4×4 chegaria a Manaus?

As notícias da estrada eram as piores possíveis e, em nenhum momento alguém nos encorajou a seguir em frente, com destino a Manaus. Muito ao contrário, a opinião unânime era a de que não conseguiríamos. Não havia carros pequenos na estrada. Apenas caminhões e alguns ônibus de uma empresa paranaense, que, como soubemos, estava perdendo um veículo por viagem naqueles dias.

Nos poucos postos de gasolina de Humaitá, a visão era caótica, uma mistura de “Mad Max” com fuga de refugiados. Caminhões e ônibus desfigurados, motoristas sem banho e acampados desordenadamente em todo canto.

Muitos deles haviam perdido sua carga, principalmente de produtos perecíveis, descarregada no caminho por terem apodrecido ou mesmo para que pudessem liberar o peso e se safarem dos atoleiros.

Soubemos também que o posto de saúde local estava lotado com os casos de malária, insolação e febre amarela.

No entanto, a essa altura do campeonato, os americanos já não estavam achando que a ideia de passar o rally por ali seria tão boa.

Chegaríamos a Caracas ou seria impossível?

No entanto, o destino dessa expedição 4×4 na Amazônia era a Venezuela e o espírito de porco off road incutido no grupo prevaleceu. Discussões e providências à parte, fomos em frente. Nossa bússola apontava para o norte.

Afinal, o plano traçado pelos americanos para esse rally era grandioso. Largando em Los Angeles, desceria pela costa leste até Ushuaia, na Argentina. Então, voltaria pela costa oeste até o Manaus, no Brasil. Seguindo para Venezuela, cruzando então os países da América Central e do Norte com destino ao Alasca. E finalmente, retornando para a Califórnia.

Uma competição que duraria dois meses e percorreria 63.000 quilômetros pelas Américas.

Na semana que vem teremos a última parte desta aventura. Então, que tal visitar nosso canal no YouTube e conferir nossas dicas?

Confira todos os capítulos dessa aventura:
Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 5 | Parte 6

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