Expedição 4×4 Amazônia: o relato de um aventureiro | PARTE 5

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Em 1985 saímos, de Foz do Iguaçu até Brasília iniciando a primeira parte dos levantamentos brasileiros do que seria o maior rally do mundo, o Amerathon. Nessa nossa expedição 4×4 na Amazônia, nossa equipe éramos eu, o fotógrafo Douglas Ortiz e o “ralizeiro” Mário Castanho de Almeida.

O Amerathon sairia de Los Angeles e daria a volta nas três Américas completando 63.000 km. Ligaria o Ushuaia ao Alaska, sempre que possível, por estradas de terra. E terra não faltaria em nossa etapa. Uma vez que, naquela época, cerca de apenas 8% de nossas estradas eram asfaltadas. Quase todas na região Sul e Centro-Oeste. Atualmente já devem ter uns 20%.

No Nordeste e, principalmente no Norte, na chamada Amazônia Legal, pavimentação era coisa do futuro. “- Good for the Rally”, como diziam os organizadores americanos.

E lá fomos nós, sem saber, em uma Expedição na Amazônia. Até Brasília um trajeto todo de terra. Os americanos deram uma pausa de alguns meses e, depois disso partimos para o que deveria ser a parte off road mais difícil de toda a expedição.

Expedição 4×4 Amazônia, uma aventura off road extrema

Agora estávamos em Humaitá, no portal da Amazônia, propriamente dita, e já sabíamos disso, como relatei nos capítulos anteriores.

A BR 319 é um risco marrom, reto, na mata verde, com 885 km e única estrada que leva a Manaus. Asfaltada, como aparecia nos mapas era um trajeto que os caminhões cumpriam, nos verões gloriosos anteriores, em menos de 18 horas.

Mas agora tudo já havia mudado. Nove anos depois de sua inauguração já não havia mais estrada. As chuvas, o excesso de movimento e a pouca manutenção havia acabado com tudo. Uma estrada feita de pontes e aterros, com tubos metálicos imensos que um dia ajudaram milhares de Igarapés (riachos) a cruzar seu traçado.

Asfalto então, nem se fala. Eram torrões duros que surgiam em meio à lama que, simplesmente destruíam as barrigadas dos caminhões e ônibus que ainda insistiam em estar lá.

No primeiro dia a coisa já era feia. Cruzamos com tratores e caminhões de Humaitá, rebocando outros caminhões e ônibus semidestruídos, muitos ainda com seus passageiros dentro. Outros, largados à beira do aterro, já abandonados, e muita gente a pé, enlameados, molhados, suados, que percorriam centenas de quilômetros para chegar a algum lugar melhor.

Não sabíamos, até então, o que encontraríamos pela frente. Mas os sinais eram os piores. Um verdadeiro tráfego de fuga. Ninguém respeitava ninguém. Éramos os únicos naquele inferno com carros pequenos. Outros poucos que vimos na estrada já estavam sobre a carroceria dos caminhões, igualmente destroçados.

Aquilo me lembrava algum filme de guerra. E víamos, até então, sem saber, somente aqueles que haviam conseguido chegar, de um jeito ou de outro, a Humaitá. Estavam agora saindo da BR 319, enquanto nós, ao contrário, ainda estávamos no início.

Estrada na Amazônia, seria mesmo possível?

– “Voltem enquanto é tempo”, era o que mais ouvíamos. “Não tem mais gasolina nem comida na estrada. – Tá cheio de malária. – Tem gente roubando e pedindo carona direto. – Vocês já vão parar no primeiro atoleiro daqui há três quilômetros”.

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E então chegamos ao atoleiro. Muitos caminhões parados dos dois lados. Tinha uns cem metros, mais ou menos. Lá no meio já esbaforia um caminhão colado até o chassi. Outro, que havia tentado ajudar também já estava bem encalhado. A fumaça preta jorrava dos escapamentos, mas em vão.

Paramos para olhar. Outros caminhoneiros, com cabos de aço (naquela época não havia ainda as cintas de reboque) tentavam unir forças para fazer um trenzinho e tirar fora os encalhados. Era uma força tarefa. Uns trinta homens gritando, chafurdando na lama amarrando e dando nós em surrados cabos de aço.

BR 319 um dos maiores desafios da expedição 4×4 Amazônia

Descobrimos então, e a tempo, que a tática para ser ajudado no desencalhe era simplesmente deixar o veículo de tal forma que atrapalhasse o movimento. Sim, tínhamos que saber encalhar, acima de tudo. Ou seja, caso nosso carro encalhasse nas laterais, seguramente aqueles que conseguissem vencer a dificuldade, nos deixariam por lá mesmo. Ou dariam ainda, uma forcinha para tirar a gente do caminho de vez.

Vimos muitos assim. Nas laterais dos aterros, tombados. Muitos dos que transportavam víveres já haviam distribuído comida para as pessoas e motoristas dessa desastrosa jornada.

Outros, apenas haviam jogado fora e descarregado, pois a carga já havia estragado ou somente se livravam do peso. Além disso, havia um fedor no ar em muitos lugares. Banheiros, nem pensar.

Nesse primeiro atoleiro tivemos sorte. Como nossos carros eram mais estreitos, conseguimos fugir dos trilhos profundos dos caminhões e passar, arriscadamente, por um dos lados.

Como seguir viagem?

Nossa tática nos ajudou muitas vezes. Em outras optamos por sair do leito da estrada e seguir por atalhos já utilizados por outros caminhões, onde ainda a coisa não estava tão feia. Contudo, o problema maior era quando o aterro havia desaparecido.

O aterro desaparecia pois os leitos originais dos igarapés haviam sido desviados, para passarem por enormes tubulões metálicos que cruzavam a estrada. Contudo, com a chuva torrencial, que acontecia todo dia, a enxurrada desenterrava esses tubulões e os carregava para longe, abrindo crateras imensas na estrada e fazendo com que a água se espalhasse nas marginais por quilômetros.

Em outras palavras, o aterro servia como uma esponja, havia a infiltração, a erosão e a destruição final. Havia locais que simplesmente sabíamos que era impossível a travessia.

Nos primeiros dias utilizamos bastante o guincho do carro de apoio americano. Fomos rebocados por outros caminhões utilizando a “técnica Amazônica”.

Mas será que conseguiríamos chegar à Manaus ou a BR 319 seria o destino final da expedição 4×4 na Amazônia?

Na próxima semana teremos o capítulo final desta aventura, fique ligado! Mas que tal, quanto isso, acompanhar nossas aventuras lá no YouTube?

Até logo!

Confira todos os capítulos dessa aventura:
Parte 1 | Parte 2 | Parte 3 | Parte 4 | Parte 6

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